CANTO PARA TI

Eu canto para ti e o meu canto se eleva

Para ser ouvido além das estrelas.

Tenho brasas na cavidade do peito

Fazendo meus olhos tão vermelhos

Ao recordar teu cheiro de flor selvagem,

Tua língua nervosa no meu queixo

Procurando a caverna da boca

Tentando sufocar a minha voz.

Canto para ti uma canção de amor

À luz da saudade que o passado oferece.

Clareando a dimensão da escura noite

Candeeiros do desejo que me devora

De ser tudo no nada que restou da vida,

Ser melodia que brota do crepúsculo

Dos anos que partilhamos juntos

Das mesmas notas na partitura

Da obra composta a quatro mãos.

Nossas vozes eram como vento em abismos,

Nosso vibrato partia espirituais vidraças,

Perfurava os tímpanos de nossas almas...

Por isso eu canto para ti, somente,

Trajando veste de nudez celeste,

A última ária da composição de amor

Retirada das entranhas do tempo...

06/01/05