SILENCIOSO CANTO

Quantas canções cantei em tua janela,

o quanto me esgoelei, e eu dizia - é por ela,

sangrei os dedos em rés maiores,

canções tristes em mis menores,

a lua bocejava, estrelas riam,

eu, o bardo, louco - diziam,

e meu amor, em fogo,

brilhava em meus

olhos de lobo...

Tanto cantei que me veio a rouquidão,

arrastava as notas como fosse em vão,

de berceuse a um velho blues,

as palavras num puído azul,

até que parei com a cantoria,

dei de recitar uma só poesia,

até que a letra foi embora,

e eis-me aqui, mudo, agora...

Reparei num vulto,

sentado numa pedra,

delicado, não bruto,

imitando uma hera,

olhava para mim,

olhava para ela,

parecia que o tempo tinha parado,

era o silêncio, da quietude admirado...