A VIAGEM DO AMOR
Cansei de ver pássaros voando,
eu, no chão, Pégaso pregado,
a perguntar: até quando
amarei ou serei amado?
Homem, nasci sem asas,
a caminhar neste escaldante chão,
como se andasse sobre as brasas
da fogueira do meu coração...
A mulher, ora direis,
vício ou defeito perfeito?,
domina corações de reis,
até o meu, pobre eleito...
Finjo ver-te, oh musa,
vindo a afastar a bruma fria;
a solidão me acusa
de abusar da poesia...
Se o homem não amar,
o que lhe sobra n'alma?
O sal salgado do mar
ou a fúria de sua calma?
Vem, amor, segue tua viagem
até pousar em meu coração;
a mim cabe ter a vasta coragem
de estender e te dar a mão...