O SOL DA POESIA

Sou um poeta dos reparos...

Retiro das ruas palavras em farrapos

e as reconstruo com linha e agulha,

as banho, ponho o pão na mesa,

as devolvo ao convívio das multidões...

Reparo danos de pequena monta,

cada uma delas sabe para onde vão,

enquanto uma delas se apronta,

outra já levanta vôo do chão...

Não as culpo quando são extraviadas,

escondidas nos fundos dos palácios,

jogadas nas calçadas, tão esfarrapadas,

sei que viver está vida não é fácil...

As pego, as limpo, as lavo, dou carinho,

mesmo que estejam em estado de noite

lhes dou um arejado dia,

digo-lhes que ninguém nunca está sozinho,.

seja em lista de espera, no fio da foice,

brilhará sobre elas o sol da poesia...