MULHER DE COR VERDE
No beco da tua poesia humidecida com ndoka
Escondem-se combustões com degraus
Emudecidos pela falta de coragem
Para enterrar meus medos, mediante teus seios
De sangue, de perfídia, de metáforas antigas
Faz-te erguida, ó mulher de abertos lábios
Pega a enxada da vida e vamos, juntos
Plantar as nossas tardes de carências
Que sabe à dor real tua cintura fina
A terra cândita onde as abelhas
Repousam o volumoso sémen
Da arrogância, com tamanha-malvadez
Um ngoma [batuca-me], sem teu receio
Cria-me uma enciclopédia de esperança
Num desencontro entre dois planetas
Totalmente opostos um do outro
Para razões epistemológicas
Que somenos teu sangue, ao fim do mês
Consegue molhar-me a língua sedenta
De crenças, e viver livremente saudável.
Angola, Saurimo, 30/03/2021
Salvador de Jesus Ximbulikha