De leste a oeste
De leste a oeste os astros vão
Rota celeste que nasce na serra
E se encerra no infinito mar
O sol vermelho entre as montanhas
Surge entre nuvens brancas de sal
O oeste o espera velho amigo
A lua prateada já vai despontar
O destino é comum aos astros
Ambos se perdem no mar
Meu corpo repousa na areia
Há um momento entre dia e noite
Que os astros parecem se encontrar
Cerro os olhos vista entorpecida
Não sei se a lua nasce nas montanhas
Ou se o sol que já começa a desabrochar
Não tenho mais cama nem norte
Guardo poucas roupas na mochila
Meus prazeres vêm das minhas mãos
Esse corpo moreno de caiçara
Moreno de lua moreno de sol
Protejo o nome dela porque é de flor
Quase esqueci o nome por não mais usar
O cheiro dela se foi no vento
Essa brisa salgada que foge para o mar
O que brilha na serra, é lua ou sol
Sinceramente não sei mais decifrar
Lua e sol nascem no leste
O mesmo brilho que se apaga no oeste
Fecho os olhos novamente inebriado
Há um luau no canto da praia
Vozes distantes a se misturar
Com o som das ondas do mar
O corpo permanece na areia
O frio começa a me dominar
Deve ser madrugada então
Deve ser a lua a me bronzear
O rosto dela desaparece aos poucos
Na fumaça do que estou a fumar
Não guardo fotos nem presentes
Não tenho cartas para lágrimas derramar
Não tenho um futuro para planejar
Restaram cicatrizes e nada mais
A lua persegue o sol de leste a oeste
Corrida vã que se repete sem trégua
Feito as memórias que tento cultivar
Valerianas ervas de cura e morte
Sou feito de lua e persigo o sol
Cujo destino é morrer no mar