A SOLIDÃO
Quando abri a porta,
lá estava ela, a solidão...
Com sua mirada torta
e uma rosa na mão...
Dentes puídos
e um nariz adunco,
disse - estás comigo,
estamos juntos...
Estendeu a mão ossuda,
arrepiei à esse toque,
sua língua pontuda
emitia choques...
Subimos ao quarto,
ela pôs o roupão,
tinha um cheiro nefasto
aquele colchão...
Como sempre fiz, abri um livro,
li duas ou três linhas, senti um cutucão,
ela disse - largue isso, fale comigo,
sou sua amiga, sua amada solidão...
Aí foi que te liguei, todo temeroso,
ao ouvir tua voz a solidão foi embora;
ainda bem que aceitou o poema amoroso,
agora escuto a solidão gritar, lá fora...