FRIO E QUENTE

Nossas pernas funcionaram,

no meio de barrigas soltas,

mas quando nos percebemos doentes,

beijamos cicatrizes

e alternadamente

chupamos o gelo inexistente.

Dali eu soube que linda é a taça de vinho

que doce é o sabor da tua língua,

que tudo está em seu lugar,

pois essa foi a sua vontade,

e a dor surgiu onde o teu corpo leve desejou.

E de nossos braços correram rios de suores.

Mais suores formaram o nosso delta.

E imaginei por instantes,

que seguimos para muitos lugares,

fomos múltiplos ramos

mas no final nos reunimos

diante da espuma livre do mar.

A poesia, contudo, não estava nos lençóis,

no sal de nossos corpos que se tornaram o ontem;

nos seus olhos,

que não se voltaram à hipótese geral das luzes;

e na incerteza da sua boca diante do meu sorriso

de brusca sensação de perda.

Do livro: NOVA MECÂNICA