AS AVES
Amontoam-se os arrulhos,
Suaves penas bramem no ar,
Depois dos vôos esvoaçantes,
Que os casais de pombos,
Humildes, pacatos e ternos,
Batem-se nos ares espessos,
Ganham as alturas medrosas,
Largam-se depois sem domínio,
Descrevem círculos, quadrados,
Sem vértices pontiagudos,
Como as verdadeiras figuras,
Que a geometria do ar
Algumas vezes permite aos voadores.
Essas aves mensageiras, velozes,
Fazem a sua paixão extensa,
Ao se prolongarem no ar,
Como verdadeiros proprietários,
Não eternos, mas temporários,
Do mesmo modo que agarram
Os minúsculos grãos de alimento,
Enquanto seus filhotes
Recebem pequenos insetos,
Menos insuficientes ao apetite,
Menos saborosos ao paladar,
Mas que o regozijo é enorme,
Pois os pais não os esqueceram.
Novamente de volta ao chão,
Retardam o vôo ao ninho,
Onde os pios dos filhotes crescem,
A minúscula gritaria deles,
Ou um atento chamado dos pais,
Que o enlevo do casal retarda,
Que o reencontro do casal suspende,
Como se as aves sem plumagens
Expostas ao frio que o entardecer,
Lento, sonoro, colorido de entusiasmo,
Que os frágeis bicos procuram,
Mas que as também frágeis asas,
Não impelem os corpos no espaço,
À procura de seus próprios interesses.
1.982