OS OUTROS
Há muito tempo rezo praticamente todos os dias
Não faço aquela oração convencional
Aquela em que os fiéis se ajoelham, ou estendem
as mãos para o céu, ou berram aos quatro cantos
Normalmente fecho os olhos e internalizo minhas penitências e desejos
Às vezes estou no banheiro, ou deitado
ou dirigindo ou em uma sala de espera
Em qualquer lugar me sinto à vontade
Preciso apenas estar no silêncio
A conversa travada também não é nada convencional
Falo com Deus como me dirijo a um Grande Amigo
Palavras simples, diretas, corriqueiras
Nunca sou respondido, mas o que me importa é desabafar,
pois sei que Ele me ouve
Antigamente rezava por mim, pela minha família,
pelos meus amigos ou pelas pessoas que sentia empatia
Mas hoje peço a Deus pelas pessoas que vejo na rua ou na TV
ou imagino que existam e que estão sofrendo
Entendi que não há muita grandeza em rezar
pelas pessoas que nos são queridas
Não porque elas não mereçam
Mas porque acho que é muito egoísmo pedir coisas boas
e bênçãos às pessoas que amamos e prá nós mesmos
É natural que queiramos o bem dessas pessoas
Mas difícil mesmo é amar e querer o bem
de quem não conhecemos ou gostamos
Qual é a grandiosidade de um professor que ensina um aluno exemplar?
Qual é a importância de um depoimento de réu que se autoelogia?
Qual é a excelência de um hospital que só trata de pacientes saudáveis?