PROCURO
Às vezes, quase que inconscientemente,
procuro palavras que perdi pelo caminho,
agulha, linha, frio, agasalho, ternura,
tento compor, como um mosaico
ou vitrô de igreja, toco o realejo
do meu coração, aceno, pergunto,
as palavras, entre insetos, riem...
Entre livros na biblioteca sinto o pó,
espano, limpo, as palavras são as mesmas,
saem limpas, vestidas, renovadas,
as encontro nos novos versos que nascem,
movem os corações humanos, cantam
como os bardos aos pés dos castelos
e, amanhã, quando a palavra ruína
herdar o que guardamos,
uma flor nascerá do ventre do barro,
e na falta de um nome que não sabemos pronunciar,
a chamaremos de amor...