Amor em tempos pandêmicos
Numa época em que a vacina era a única esperança, e a morte sorteava as portas que bateria naquele dia, o mundo tentava seguir normalmente, ou quase normal pois a anormalidade se tornara fator cotidiano.
Tudo estava em ruínas, os nervos em frangalhos, o impedimento à liberdade fazia reféns da agonia.
Em meio à todo esse turbilhão, um reencontro. Céus!? Será que não tinha uma hora melhor para por aqueles dois de frente um para o outro?
Talvez aquela fosse a última chance da vida, por isso, a pressa do universo.
Ruas lotadas de quase ninguém, alguns alguéns trilhavam passos no intuito de aliviar a mente.
O pensamento distante cegava os olhos, fazia tropeçar no primeiro que se aproximava.
Um esbarrão, um pedido de desculpas que fez enxergar além das máscaras. Não era um alguém!? Não, para o espanto dele, era ela.
Como? Depois de tantos anos, no mesmo lugar onde tudo começou?
O destino,às vezes,banha de ironia as histórias.
Um diálogo acabava de florescer, eles usaram as rugas para dissipar as rusgas.
Algo renascia ali, mesmo que outrora tivesse morrido, mas desta vez já não era mais como antes.
Intensamente os laços foram se (re)fazendo, unindo pouco a pouco aqueles dois universos.
Mas em meio a tudo isso, uma dúvida espremia os corações.
Viscerais do jeito que eram planejaram métodos mirabolantes para obter a tal resposta.
Assim, no dia dezessete do mês quinto, do ano de dois mil e trinta, num jantar à luz de velas, de frente para o mar, como se fosse ensaiado, os dois ao mesmo tempo.
Se você me ama por que não me deixa saber disso?
...
"I took my love down to violet hill
There we sat in snow
All that time she was silent still"(Coldplay)