CLARA POESIA

Quando, sem entendimento, em curta calça,

minha mãe dizia - és tu um passarinho...

Lá ia eu tateando o mundo, como numa balsa,

descendo corredeiras, voando sozinho...

E vi de tudo que estes olhos podem ver...

E fui erguendo minha figura, tal estandarte...

Sabe um homem o que ele há de saber,

escapar das guerras e viver de engenho e arte...

O anti-amor arma-te armadilhas sutis,

dá-lhe sorrisos suntuosos, amestrados,

abraços com unhas longas, atos vis,

arma-se de ardor falso, rebuscado...

De calças longas e sapatos em verniz,

dei-me ao mundo, de corpo e alma...

Segredos que só o vento é quem diz,

o furor do amor e sua voraz calma...

Erguido e posto no topo de si,

um homem se completa a todo dia...

Sabe o significado de chorar e rir,

do estranho escrito e da clara poesia.