Há quem diga que o amor é cego
Ainda que eu fale a língua dos homens
E dos anjos, se não tiver amor, nada serei.
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Ainda que eu distribua todos os meus bens
Entre os pobres e entregue o meu corpo para ser queimado,
Se não tiver amor nada serei.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
O amor é paciente, é benigno;
O amor não arde em ciúmes, não se ufana,
Não se ensoberbece.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder.
O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
Tudo suporta.
O amor jamais acaba.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o amor?
O amor é perfeito e educado,
Real e positivo, é a estrada da razão,
Quem disser algo contrário
É mentiroso.