Inferno de amar
No amor demais que me incendeia
Sobem as faíscas de poeira em fogo
Donde avisto-te em espectro
Distanciado pela fumaça de minhas chamas.
Se tu soubesses do amor que me arde inteira
Não privarias meu corpo de tua brasa
E não relegarias a mim tua água vomitada de desdém e asco.
És indiferente ao que me queima
O fogo que arde em mim sequer te amorna a pele
E o desprezo com que me banhas
Transfigura em cinzas mortas minhas partes mais queimadas.
Não é só meu coração que arde
Minhas entranhas queimam e escorrem líquidos adocicados pelas pernas
Os montes de meus seios gritam em contrações involuntárias de querer-te
Meu olhos choram lava, sulcando minha pele envelhecida de esperar-te.
Quanto desprezo teus olhos carregam
Nem me olham, nem me sabem.
Sobem poeirinhas chamuscadas do meu pensamento
Em que te vejo poético, quase um deus, Hefesto.
A lúgubre figura deveria ser detestável, mas me molesta, tenta, me mata.
Amo-te ou apenas te quero?
Querer-te é um mistério.
Amar-te um devaneio.
Parece que quanto mais me repeles, mais amo, mais pertenço a ti.
Quanto mais pertenço, mais me perco, mais me queimo.
Arder em brasa me adoece, fere minhas carnes,
Mas amo-te, queimando assim, no fogo do inferno.