Poema do amor real
Não é fácil viver entre a gente.
Pessoas se odeiam e se unem pelo ódio,
Por drogas, por tesão...
Eu - que, quando amo,
Amo de verdade –
Não.
Eu não consigo abraçar com vontade se estou sendo falso.
– Eu tenho uma dificuldade imensa de ser falso.
Eu mal e mal consigo fingir.
Explodo como bomba atômica, mais por dentro que por fora.
Eu amo como bomba atômica,
Que estoura.
E eu te amo tanto quanto odeio a gente hipócrita,
Que se reúne agora
E depois se ignora,
Que se junta uma hora
E depois joga fora.
Eu não tenho tempo pra viver maldades.
Eu não tenho gosto
Por gozar de frutos
Pelas metades.
Eu sou intolerante
Com tudo o que me faça
Perder
A dignidade.
Eu não sou merda nenhuma,
Mas, se eu te amo,
Eu amo – como disse –
É de verdade.
Eu amo como quem vira as costas
E cultiva memórias,
Com delicadezas, fertilizantes, água pura aos regadores,
Sem demoras:
A cada dia,
Eu cuido os brotos,
Arranco as folhas mortas,
Mato larvas,
Colho as flores
E as exponho nas varandas
Contando histórias,
Como entre crianças desinteressadas
Vida afora.
A minha alma tem varandas longas
Onde a chuva cai rente aos olhos
E há sempre um convite carinhoso para entrar
E se assentar.
Mas viro as costas e me escondo dentro do peito
Ao perceber que quem não sabe amar direito
Tenta se aproximar.
Eu te amo tanto quanto ao peixe o mar,
À terra a chuva, ao bom filho
O lar.
Eu quero que entres
E te sintas protegido
E que saibas que aqui dentro
É teu lugar,
Com a segurança de comida e sono,
Mesmo sem mistura
E só o assoalho a se deitar.
Eu quero secar teu choro
Mesmo que se dele
Sou eu o culpado.
Eu venho te pedir perdão,
Mesmo se sou eu
Que fui magoado.
Eu quero que acredites em mim,
Mesmo eu sendo sempre errado.
Eu quero te fazer um poema
Ou um sonho,
Pois és quem me inspira tudo
O que tenho sonhado.
E quero por fim morrer feliz
Por ter na morte
Os teus olhos brilhando
Sérios
Comigo...
...Do meu lado.