O TEMPO

Do tempo, o rosto, nunca o verei...

Por mais que o saiba perto,

sabe mais de mim do que eu sei...

Não responde perguntas,

escuto apenas o farfalhar de suas mãos;

sei que de todos ajunta

o que perdemos nas ruas da ilusão...

Quantas vezes citamos seu nome

apenas por duvidar de sua existência;

sente ele, em nós, a mesma fome,

e assim nos alimenta em nossa presença...

Nos mede, assiste o nosso desvelo,

sabe que nos afeta sem um toque;

ouve mas não atende o nosso apelo,

nos leva, um por um, à reboque...

A descrição nunca corresponde à ele,

jamais saberemos com qual fio nos fia;

somos todos propriedades dele,

como a palavra é propriedade da poesia...