CHORO CHORADO

Já chorei tanto

nos braços da minha amada,

que pensou ela que o pranto

nada mais era que uma enxurrada...

E rio fui chorando e rindo da minha dor,

e ela mil lenços usava a me secar,

em murmúrios suaves dizia, meu amor,

diga-me o motivo, por quê estás a chorar?

Um rio não responde, desce correndo,

só deseja que surja o abraço do mar,

despedaçado e morrendo por dentro,

nem repara nas ondas a lhe balançar...

Minha amada contra o peito me apertava,

dizia versos, que eu parasse de chorar, esperando,

citava Camões e Pessoa, e quanto mais recitava,

mais e mais, em lágrimas, eu me acabando...

E de repente, num soluço, eu me perguntei

se o meu choro era pela morte da poesia,

então o choro, repentinamente cessei,

e, espantado, o porquê do choro nem eu sabia...