O HOMEM DO NADA

Ao homem pálido,

a sua cor constante,

à falta de iguarias

no seu jantar dançante.

Ao homem da rua,

a sua perversa moradia,

a que ele se submete,

toda noite, todo dia.

Ao homem carente,

a sua palidez severa,

à falta de compostura

em listas de espera.

Ao homem das gentes,

a sua prontidão eterna,

com as feridas expostas

nas chagas da perna.

Ao homem do nada,

a sua total decência,

à falta de tudo,

a sua maior imprudência.

Ao homem do tormento,

a sua pureza escondida,

à falta de oportunidades,

só falta lhe tirarem a vida.