Coma
Depois do impacto, a escuridão viera
A buzina, todo o vidro, o vermelho daquele semáforo
Alguém se importaria?
Alguém choraria ao lado do meu leito
Em um hospital qualquer?
O bipe se iniciou pouco tempo depois
E sabia que significava esperança
Mas ao mesmo tempo as trevas me preocupavam
As vozes distantes, não conseguia focar nas palavras
Mas falavam em morte ou em nunca acordar
Haviam toques, suaves e intensos, e beijos
Nas mãos e no rosto
E perfumes de mãe, de irmã e de amante
Diferenciava bem seus tons, suas intensidades
Eu ainda estava ali, senciente, lembrava
Sentia, ouvia, podia jurar que as vezes via
Um emaranhado de tubos saindo do meu corpo frágil
E o bipe ritmado, me dizendo que ainda havia retorno
Teria sido algumas horas, e logo me dei conta
Que o perfume de mãe deixei de sentir
O toque de irmã era mais enrugado
E a voz de amante simplesmente desapareceu
No dia que vi papéis sendo assinados
Bem do meu lado
Foi o dia que o bipe não teve fim
Que a linha ficou reta
E eu me afundei na escuridão
Até finalmente a luz aparecer.