Encanto

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
O encanto que mora em meus olhos
Quando pressente a sua presença
Meus olhos, dois beija-flores enluarados
Confusos na noite
Encanto quase imóvel, inerte ternura
Do nosso amor cansado

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
Das nossas horas sagradas
Onde a simplicidade é Rainha
Santificada, inspira nossos impulsos
Instantes que nos nutrem de poesia

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
Dos nossos beijos, suaves pétalas doces
Alento dos ventos que passeia entre os trigais
Gentil aroma, lábios de imanências

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
Das líricas poesias, nos jardins soturnos, declamadas
Das juras quase infindas em noites inebriadas
Noites sem tempo, repletas de amor e brasa

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
Do tom do violão entre canções pronunciadas
A métrica das rimas, harmonia desejada
Conformam os sonhos mais bonitos e o mais distantes

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
Dos teus olhos, cor das águas
São cristalinos estímulos involuntários
Clara e relativa força, em mim gravitacional

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
Das melodias e canções antes jamais ouvidas
Quando noite, bem tarde, eram entre nós divididas
Em alvas dimensões suspensas, desconhecidas
Somente por nós dois visitadas

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
Dos fins de tarde, depois da chuva
Sempre um tempo consagrado
Paisagem verde, o cheiro do verde
Raios solares perfuram os palácios de nuvens
Logo, a face de Deus nos observa

Não queria eu, meu amor
Por ti, perder o encanto
Pois hoje não crer,
No afável consolo deste primórdio canto
È envelhecer, desacreditar no amor
Assim fatalmente entender, no entanto
Que o amor está além do encanto
E o encanto é intrínseco ao amor.