FLOR INSONE
Uma flor brotou no coração do prado,
uma flor insone e tecnocrática,
um tanto estranha, um tanto errática,
uma espécie de milagre e falha
que só acha paradeiro dentro paradoxo.
Ela não se confunde em meios agrestes,
sua tez se aprofunda, se comprime e diverge
como se talvez não soubesse ser bela.
Suas cores impressionam como um teste
onde o código-fonte factual converge
e se distorce em déjà-vu impreciso,
talvez parte, talvez risco
de todo o mistério que a precede.
Essa flor tem os olhos fundos e cálidos
tons de amêndoa cravejados de olheiras,
pudera, não dorme, a luz é sua cegueira
persegue-a no interior da noite celeste
e por pouco que seja, de ver, vira estrela!
Ela se aprofunda em complacente reflexo
e o registra em papiros modernos:
desenhos e vídeos, seu modo de ser eterna.
Sondar esta flor é infausta tarefa,
ela predirá o pensamento, exporá a descoberta,
tudo fruto de seu jeito inocente
de ser pacientemente desconexa.
Ela porá a mesa: pão, manteiga, café,
e lhe dirá que é sim mulher
e não há segredos que lhe escapem a tela.
Ela desprogramou os duplos sentidos!
Eis a primavera!
Essa flor tecnocrática e desperta,
um tanto errada, um tanto certa,
me deixou um abraço que lentamente some,
umas palavras da própria voz dela
(que aliás, não é bela)
e a mesma maldição insone
das suas pétalas.
Diego Duarte dos Santos