FLOR INSONE

Uma flor brotou no coração do prado,

uma flor insone e tecnocrática,

um tanto estranha, um tanto errática,

uma espécie de milagre e falha

que só acha paradeiro dentro paradoxo.

Ela não se confunde em meios agrestes,

sua tez se aprofunda, se comprime e diverge

como se talvez não soubesse ser bela.

Suas cores impressionam como um teste

onde o código-fonte factual converge

e se distorce em déjà-vu impreciso,

talvez parte, talvez risco

de todo o mistério que a precede.

Essa flor tem os olhos fundos e cálidos

tons de amêndoa cravejados de olheiras,

pudera, não dorme, a luz é sua cegueira

persegue-a no interior da noite celeste

e por pouco que seja, de ver, vira estrela!

Ela se aprofunda em complacente reflexo

e o registra em papiros modernos:

desenhos e vídeos, seu modo de ser eterna.

Sondar esta flor é infausta tarefa,

ela predirá o pensamento, exporá a descoberta,

tudo fruto de seu jeito inocente

de ser pacientemente desconexa.

Ela porá a mesa: pão, manteiga, café,

e lhe dirá que é sim mulher

e não há segredos que lhe escapem a tela.

Ela desprogramou os duplos sentidos!

Eis a primavera!

Essa flor tecnocrática e desperta,

um tanto errada, um tanto certa,

me deixou um abraço que lentamente some,

umas palavras da própria voz dela

(que aliás, não é bela)

e a mesma maldição insone

das suas pétalas.

Diego Duarte dos Santos

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 04/01/2021
Código do texto: T7151959
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