A Transfiguração do Amor
Os teus olhos cerrados, como uma casa a dormir,
Exalam o perfume desta estranha conjugal união.
Aquelas palavras ditas eram grávidas de execração,
E na alcova de amar havia os lençóis do ressentir.
Os teus olhos despertaram, como uma flor despida,
E logo tua mão encontrou todo o pesar de meu olhar.
Soergueste-te na cama, calmamente, para descansar
Em teu peito as efusões de minhas lágrimas contritas.
Logo depois, teu sorriso se espalhava por todo o lar,
Lancei ao chão aquelas tristezas, ideias e pensamentos
E nossos risos se enlaçaram com um simples juramento:
Não desistir do outro, não importam as vicissitudes de amar.
Quando ias, tão serena, ao quintal regar as flores
Tosquiavas as folhas murchas de nossas dores,
Cantavas o perdão de nossas infantis inseguranças,
E ao me ver te vendo, me colhias com beijos e esperanças.
Naqueles vales de martírios achou-se o Lírio da Remissão,
E em teus lábios selamo-nos as sonoras conchas da fidelidade,
E em nosso refúgio brilhou o êxtase leitoso da transfiguração,
Pois a Ciência, a Empatia e o Amor de nossa afetividade
São os mistérios cognoscíveis da trindade de nossa adoração.
(Gilliard Alves Rodrigues)