Ressurreição
Ressurreição
, minha amada! Há tanto tempo que eu queria dizer-te...
Que não são as tuas vestes fulgurantes, e nem mesmo esse teu perfume inebriante, que prendem a minha atenção; que me atraem de súbito e me atiçam irresistivelmente
O que em ti me faz escravo perpétuo de teu corpo, muito acima de qualquer outro adereço que possas ter, o que me enche de volúpia e prazer, é o teu riso vindo em cascata
São teus enormes olhos brilhantes de tigresa noturna, tua boca de lábios carnudos, e acima de tudo isso, o que me faz capitular de vez, é este teu cheiro de fêmea exigente
Tu, de banho tomado, cabelos molhados, a pele limpa e macia, diafana e sutil como um beija-flor, és uma sinfonia bem elaborada, uma fruta madura colhida no seio da mata.
Tudo o que quero de ti, amada, o que preciso pra acalmar esse meu desespero de Prometeu usurpado, é a tua voz a me acarinhar os ouvidos, o teu pendular entre companheira e amante
Nada mais eu quero além de ti, pois tudo o mais me é supérfluo, desimportante. Saber que tu e eu somos um, que nossas falas não precisam de tradução, ou de intérprete a fazer mediação
Torna-me um deus na Terra, provedor de mim mesmo. Embora longe de ti, tua presença é constante, nossos diálogos mentais fluem naturalmente como água fresca a jorrar da fonte
Basta-me que tu apreendas a ciência de não curvar-se a Chronos, que tal como Perséfone ressurja das cinzas do Hades, e beba do cálice de vinho da Vida com fervor e suprema devoção.
(Era tudo isso o que eu tinha para te dizer.)
Terras de Olivença, manhã de sexta-feira, já com Apollo navegando próximo do ponto mais alto do céu, Dezembro de 2020
João Bosco