Ardente e Pura Flor

A Flor ardente de meus sonhos belos

(Fogosa mulher), vim achar em ti;

Divinos risos como os teus singelos

Em outros lábios despojar não vi.

Eu te encontrei, como uma rosa casta,

Erma no vale desmaiando ao luar;

E a trança bela onde a flor se engasta

Solta, ondulante às rebentações do mar.

Logo, eu acreditei dilatar-me em gozo

Ao ver-te a graça desses olhos nus.

Era o ideal que eu procurava ansioso

Como busca a borboleta o beijo da luz.

Eu vim amar-te: eis minha dolorosa sina,

Dar-te no silêncio meus amantes gemidos;

E nos eflúvios deste amor, na paixão libertina

Banhar-te a fronte com perfumes reprimidos.

Farto o meu peito de brutais amores,

Partiu sem norte nesse insano amar;

Ainda há nas horas as delicadas flores,

Ainda entre as neblinas se lacrimeja o luar.

Eu vim amar-te no âmago dos caminhos

(Do amor aos lírios ungir teus sacros pés)

E do teu seio auferir coágulos e espinhos

Para o turvo fundo das esquecidas marés.

Quem sabe amanhã num erguer da aurora,

Tudo me esqueça do que já vi e senti aqui;

Talvez volte aos sonhos que sonhava outrora,

Talvez eu volte ao amor que a gemer vivi!

Há o consolo da ilusão... que seus áureos elos

Hão de algemar-me ao que mais abastado vi!

E tu vais lembrar todos os meus sonhos belos:

A mais pura flor que vi chorar e rir dentro de ti!

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 09/12/2020
Reeditado em 09/12/2020
Código do texto: T7131607
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.