Ardente e Pura Flor
A Flor ardente de meus sonhos belos
(Fogosa mulher), vim achar em ti;
Divinos risos como os teus singelos
Em outros lábios despojar não vi.
Eu te encontrei, como uma rosa casta,
Erma no vale desmaiando ao luar;
E a trança bela onde a flor se engasta
Solta, ondulante às rebentações do mar.
Logo, eu acreditei dilatar-me em gozo
Ao ver-te a graça desses olhos nus.
Era o ideal que eu procurava ansioso
Como busca a borboleta o beijo da luz.
Eu vim amar-te: eis minha dolorosa sina,
Dar-te no silêncio meus amantes gemidos;
E nos eflúvios deste amor, na paixão libertina
Banhar-te a fronte com perfumes reprimidos.
Farto o meu peito de brutais amores,
Partiu sem norte nesse insano amar;
Ainda há nas horas as delicadas flores,
Ainda entre as neblinas se lacrimeja o luar.
Eu vim amar-te no âmago dos caminhos
(Do amor aos lírios ungir teus sacros pés)
E do teu seio auferir coágulos e espinhos
Para o turvo fundo das esquecidas marés.
Quem sabe amanhã num erguer da aurora,
Tudo me esqueça do que já vi e senti aqui;
Talvez volte aos sonhos que sonhava outrora,
Talvez eu volte ao amor que a gemer vivi!
Há o consolo da ilusão... que seus áureos elos
Hão de algemar-me ao que mais abastado vi!
E tu vais lembrar todos os meus sonhos belos:
A mais pura flor que vi chorar e rir dentro de ti!