Condenação

E a chuva cai sobre a cidade

E eu sorvo a bebida que do copo transborda

Num canto qualquer

E minha pele ressente-se

Não tanto pelo ar frio

Ela pressente algo em mim

Que partiu

Meu coração esquadrinha velhas e novas lembranças

E ele condói-se

Eu já não trago esperança

De amar como já amei

Eu sei que há amor em meu entorno

Mas ainda assim sinto o vazio

É querer dar algo que não se tem

É esforça-se para não partir ao meio outro alguém

Toda essa chuva a cair

São as lagrimas que eu não deixo sair

Eu acendo outra cigarrilha

Eu peço mais uma bebida

Procuro em mim entender a razão

São tantas salas escuras dentro do meu ser

É tanto abandono e solidão

E quem diz que conhece-me

Engana-se.

Pois, eu mesma não reconheço-me

Diante um espelho sujo

Eu pergunto:

Quem é você estranha?

Onde todo amor que pulsava em mim?

Será que me perdi?

Ou sempre fui assim?

Oras outrem

Por vezes atriz

Quem diz que me quer

E quem disse que já me teve

Esbarrou com essa fina camada de brilho

Nunca adentrou aqui onde habito

Pois perderia-se em labirintos

Contornos irregulares da minha alma ferida

Nesse breu que encanta e entorpece

Mais um dia amanhece

E as perguntas sem respostas

Aqui permanecem

Eu sonhei tanto em mãos unidas e entrelaçadas

Mas elas encontram-se soltas

E eu não tenho como evitar

Toda a grande devastação que se anuncia

Preparo-me.

Agora saio da vítima de minhas dores e desamores

Para ser algoz da dor e desamor de outro

Essa minha sentença

Essa minha condenação

Fabiana Ferreira Lopes
Enviado por Fabiana Ferreira Lopes em 08/12/2020
Reeditado em 19/05/2022
Código do texto: T7131047
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