...sorvo prados morenos dos teus olhos
Na mansidão da desordem
eclode a primavera de um tempo de medusas vivas,
a descerrar-se do beiral de roseiras e d’urtigas.
Ninfa primitiva dos bosques,
mastigo a beberagem da taça de cicuta
em goles dúcteis,
pequenos,
serenos.
Em deleite, antecipando a viagem,
sorvo prados morenos dos teus olhos, meu amado.
No talhe angulado e bilabiado da boca,
bebo-te a voz, quente, rouca, que me fala a alma,
que sacode negras nuvens da noite que agora morre.
(E dela, a mensagem primitiva, descodificada,
no amanhecer livre d’aurora.)
Liberto a fragrância de póstumas lágrimas
na aragem libidinosa que se escorre, derivada,
sendo seiva, saliva, de que se alimenta a planta,
do caule à folha, em cadência preliminar e recôndita.
Silencio o mais fino nevoeiro em gelosias de lume,
solto os seios, os limites, os anseios,
os desejos mais frementes.
Despenho-me ninfa ou fada, no teu colo, amado,
de melodia carmina,
e sou centelha Pré-câmbrica a eclodir-se vermelha
no primado duma Nova Era.
Amo-te para além do véu do vento,
perpasso a areia na procura da raiz deste bem querer imenso
e, por fim, sou sobre ela, serenada em ti,
a prata exultada em dia de lua cheia.