VIOLINOS DO SONHO
CORAÇÃO DE OUTONO
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Coração das folhas vagabundas de Outono,
donde vieste?
Cerras-te ao voar pelas galerias de ouro.
Quem te reconhece?
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Amanhã não haverá Sol. E
as amplitudes térmicas vão abrir
brechas do cume ao sopé
das montanhas rochosas.
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Dedos das rosas pelas teclas moribundas,
quem vos prendeu?
Amanhã vai chover.
Olhos das ondas pelas areias da praia,
ingénuos infantes,
quem vos trouxe aqui?
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Oh violinos do sonho, trompas
da morte, montras
da noite,
donde foi que eu vim?
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FOLHAS DE OUTONO
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Folhas amarelecidas, queimadas,
à superfície do Lago
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Folhas mágicas –
folhas de plátanos
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Mãos de deusa
madrinha de guerreiros
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Sonhos impelidos pelo Vento
à superfície do Lago
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O sábio Vento não esquece
as tristes folhas de Outono
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TARDE MÁGICA
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Tarde mágica, suave, povoada de gaivotas
Ondinhas pequeninas, espuma branca a
correr pela areia
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A esconder-se, em segredo, atrás
das nuvens espessas, o
vermelhão do sol
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– Não adormeças!
Não te escondas esta noite!
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– Fica comigo, leva-me às nuvens
Cobre-me da sua manta quente, aconchegante –
elas ainda guardam o teu calor
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– ...Eu, sem ti? Não sou nada...
Agora que vais viajar para tão longe,
onde irei buscar essa força
que só me vem de ti?
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Outono, maré baixa
*
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© Myriam Jubilot de Carvalho
2020