MISTURA BOA!

Há tempos eu era.

Há pouco tempo eu sou.

No espaço de quem eu era

E de quem eu sou

Descobrir as interfaces

Da pigmentação desta pele humana e frágil.

Trago em minha cara

As marcas das lágrimas

Que ganhei ao nascer desta cor.

Sou a mistura

Bruta e clara

Da ginga, da alma, do batuque

De tanta gente, de tanto sangue,

de tanta luta, de tanta dor.

Sou chamada de morena, preta,

amorenada, quase clara.

Ou cochicham à surdina: negra assanhada!

Sou mestiça, obrigada a dizer:

Sim, senhor!

Nesta terra das misturas,

E tão impune

A senzala é ocupada por todas as cores.

Agora, face a face

Sem buscar disfarce

Vejo-me grande e bela

E de toda cor!!!