Senhor de mim ...
No rumor das coisas
encontro os teus desejos
escalpes refeitos de um tempo de giestas angulosas.
Descalça, bélica e virginal,
guerreira sem medos,
percorro-te nas calçadas desempedradas,
nas escarpas mais elevadas,
no bocejar da noite.
Rebusco da pedra, a areia fina,
a enseada
a brisa marinha
o ritmo compassado das tuas asas
tímidas a perfurar a neblina.
Bebes de mim as palavras entardecidas,
os silêncios mais secretos,
acalmas todos os meus receios,
anulas as nossas mágoas,
na suavidade dos gestos,
unes sons, ruídos e vozes, num desabrochar
de orquídeas d’afectos.
Unges os meus seios,
com as brisas perfumadas dos desertos,
as que trazes de um tempo vão e, por fim,
reencontrado em ti,
ausente da solidão das coisas ocas,
trespassas a minha boca e és senhor de mim.
Ao fundo, no pátio e no jardim,
folhas amarelas desenham na penumbra cúmplice
quilhas invertidas de barcos,
desfolhando-se lentamente em queda,
elevando exímias flores dos espelhos d’água.