Devir

Se eu lhe dissesse que só um abraço mudaria para sempre

o ocaso de sua voz em mim,

lentamente, por reflexos do tempo, atenuaria a vil necessidade de escutar os próprios pensamentos.

Se eu lhe dissesse que seus braços envoltos aos meus

trariam a força natural dos olhos fechados, acirrando uma cabal sensibilidade à saudade do momento exato, as nossas almas, por frêmito tato, sairiam do corpo pelas feridas.

Se eu lhe dissesse que jamais te esqueceria (ah, se acontecesse esse dia...) lembraríamos de viver o torpor dos imortais como se a vida fosse dividida em

intensidades iguais?

e, assim,

por não dizer

agora não ouve;

por não tocar,

agora não sente;

por não sair,

agora não move;

por não acreditar,

nunca se apaga;

por não ter,

não se recupera;

e, por tanto adiar,

agora... não mais se espera.

O agora é o único tempo capaz

de se fazer o possível,

seja para vivermos mais

um pouco do que jamais teria sido.

Igor Calazans
Enviado por Igor Calazans em 03/11/2020
Código do texto: T7102977
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