AMOR PUERIL 
 
Quem me dera tivesse apenas confundido o significado das palavras, eu fico com a impressão de ainda estar confuso.
Tomara que eu esteja confuso, seria mais proveitoso e menos triste.
Mais aceitável e menos doloroso.


Quando me veio à mente tal palavra, ela veio ilustrada, era uma ação, um movimento. E apesar de tê-la colhido de maneira enganosa no pomar, aquela cena, aquela tomada, aquele filme fazia muito sentido.

- ‘Um homem assoprava algo que estava encoberto por poeira. Ele tentava com isso nada menos que mostra-lo pelo simples óbvio da sua beleza. Ademais, deixava clara sua satisfação e alegria em revela-lo aos demais’. -  

Entre confusões e colheitas, equívocos e palavras corretas, sempre há uma sentinela cochichando em nossos ouvidos a favor do melhor fruto. E num pomar tão farto pude me corrigir e aprender que poeira é poeira e pueril é outra coisa. Outra coisa que também fez sentido; a cena vista de outro ângulo.

Frívolo, volúvel, oco – seria melhor só poeira.
Diante de tais adjetivos eu  também o deixaria empoeirado.
Eu também o esqueceria ao alcance dos meus próprios olhos
e talvez assopraria o pó por mera nostalgia e nada mais.
 

De pensar que era o amor. Encoberto e desprezado.
Tão declarado, tão declamado,
Tão confuso, mas tão esmiuçado pelos gregos.
Tão provado na cruz!


Não! Definitivamente, não pode ser o amor.
Me recuso a acreditar num amor pueril ou empoeirado,
deve ser outro equívoco.
Que a sentinela me ajude no pomar das palavras,
há de haver outro fruto.
Aquilo não pode ser o amor! Que não seja o amor.