Carta para Hélio Trotta

Por meio do invento de Graham Bell, a voz emocionada

De Alcinéa desencantou sua vida deste triste mundo,

Imediatamente pensei nos livros presenteados pelo amigo,

Todos os dias enquanto consertava as máquinas do tempo.

Eu lia um livro por dia às custas do seu suor contente

Pela indicação de sua dedicação, e aos plenos resmungos,

Insistentes, para eu não seguir jamais seu ofício diário.

Antes me tornasse relojoeiro no lugar de professor,

Teria sido criativo no lugar de mero repetitivo.

Lembro de chegar feliz em casa com sacolas de livros:

Eram de psicologia ao invés de textos de filosofia,

Mas sua voz sarcástica dizia que era “tudo ia”.

Tudo foi, como sempre se vai, até seu fim físico,

Deixando em mim, suas mentiras engraçadas, cruéis,

E lições sobre obscuridades dos nossos crimes

Diariamente confeccionados pelos interesses mesquinhos.

Sou Flamengo, fã de Pixinguinha, ouvinte de Sinatra,

Impregnado por Nelson, amante de Jobim e “cinéfilo”

Pelos nossos hábitos de Maracanã, vitrola e cinema.

Sempre fui o melhor e o pior do que o senhor foi ou não quis.

Quisera eu ser alguma coisa face à sua engenhosidade

Em resolver os defeitos dos inventos de Peter Henlein.

Sempre invejei sua inteligência sabedor de minha indigência.

Agora, mais perto da morte de quando me carregava no colo,

Penso quanto os homens foram vítimas de si mesmos,

Da masculinidade que oprimiu todos nós, pai e filho.

Eu sempre te amei com atos e não pelas palavras,

Estas ficam apenas nos textos escritos sem leitores.

Em breve nos veremos, quem sabe, no inferno:

Ambiente dos incrédulos e debochados, nós dois.