O Tesouro
Guardado em sua caixa secreta,
estava o seu amado poeta.
Ela o alimentava com esperanças,
revia sempre seu olhar de criança.
E quando a inconstância a atormentava
com a dor da distância...
Ela se lembrava daquela ressonância.
Ele era sua sinfonia.
Fosse noite ou fosse dia.
Ela punha-se a admirar aquela suave
e doce ousadia.
Vez por outra se sentia atemorizada.
Sabia: tinha sido arrebatada!
O Amor a convidava, insistentemente, para habitar
numa nova moradia.
Sentia medo daquele convite que tentava
fazê-la domar sua peculiar rebeldia.
O poeta tinha postura incerta.
Era profundo e raso.
Doce e amargo.
Ora era rio, ora era lago.
Às vezes era pontual,
outras vezes se entregava ao atraso.
Era extremamente imprudente
e ela adorava seu jeito indecente, inocente.
Ao lembrar da sua fisionomia
a noite virava dia,
era festa em sua mente.
Entregue a este encanto
atenuava seu pranto,
a dor do amado ausente.
Seguia sorridente,
pois na galeria do seu inconsciente
havia um espaço reservado,
para um quadro por demais apreciado:
a imagem do jovem que transferida no olhar,
o sonho de edificar um futuro melhor para a sua gente.
Nijinska Nelly.
17.05.2013