O FIM DA TARDE
O fim da tarde cala ou encanta
Canta melodias de alguém com os anseios
Cravados no peito de um punhal ferido
Amo-te sobre uma mesa, sobre a sala severa
Quarto às cegas quando o silêncio fala
Fala à luz de uma garrafa
Garrafa num quarto fechado de desejo
Com as persianas da noite, das nossas solidões
Tarde gloriosa da tua carne, da nossa
Pena, pena com a alma
De um inteligente vinho doce amargo
Bebamos para recordarmos cada dia
Esta gota de ouro num copo num cálice
De cor púrpura, sangue quente nas veias
Neste outono das nossas vidas
Vinho das pipas, barris, garrafas
Adegas perdidas, esquecidas e velhas
Com respeito, desamor e beleza
Prolongadas pelo tempo feitas em milagres
Felicidade que mora, mora em mim em ti
Primavera numa folha nova, nova onde ninguém perde
O anseio numa tarde de prazer, moro em ti, tu em mim
Crueldade nas espadas de uma garrafa
Terra, cântico do fruto degastada no tempo
Cidade cega abundam-te da tua beleza
O fim da tarde cala ou encanta quando o silêncio fala
Fala à luz de uma garrafa cheia de desejos do nosso outono
Vinho doce amargo bebamos para recordarmos cada dia.