O FIM DA TARDE

O fim da tarde cala ou encanta

Canta melodias de alguém com os anseios

Cravados no peito de um punhal ferido

Amo-te sobre uma mesa, sobre a sala severa

Quarto às cegas quando o silêncio fala

Fala à luz de uma garrafa

Garrafa num quarto fechado de desejo

Com as persianas da noite, das nossas solidões

Tarde gloriosa da tua carne, da nossa

Pena, pena com a alma

De um inteligente vinho doce amargo

Bebamos para recordarmos cada dia

Esta gota de ouro num copo num cálice

De cor púrpura, sangue quente nas veias

Neste outono das nossas vidas

Vinho das pipas, barris, garrafas

Adegas perdidas, esquecidas e velhas

Com respeito, desamor e beleza

Prolongadas pelo tempo feitas em milagres

Felicidade que mora, mora em mim em ti

Primavera numa folha nova, nova onde ninguém perde

O anseio numa tarde de prazer, moro em ti, tu em mim

Crueldade nas espadas de uma garrafa

Terra, cântico do fruto degastada no tempo

Cidade cega abundam-te da tua beleza

O fim da tarde cala ou encanta quando o silêncio fala

Fala à luz de uma garrafa cheia de desejos do nosso outono

Vinho doce amargo bebamos para recordarmos cada dia.

Isabel Morais Ribeiro Fonseca
Enviado por Isabel Morais Ribeiro Fonseca em 10/10/2020
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