Álbum de fotografias
Um movimento simples, ao pegar uma caneta,
Ao sorrir displicente, ao virar-se
Para olhar o que captura sua atenção.
Em tudo há, da divina criação, a beleza.
Teu corpo imperfeito, aos olhos teus, é,
Para mim,
O solo onde nascem as maravilhas
E tua mente um mistério demasiado grande
Para que eu o decifre,
Então eu desejo, nele, apenas perder-me.
Na derme jaz o desejo exposto, deitado
Nas chamas e tu,
Beleza atormentadora, nos meus olhos
Gravado a fogo, esfolando-me camada a camada,
Paixão, loucura, amor.
Quem há de dizer que na trilha
Do conhecimento mútuo
Não tem que jogar-se do abismo,
Explorar as fronteiras dos sonhos e então
Aprender que na insanidade do outro,
Amor pode haver e amar é tudo
O que se pode fazer?
E até onde vai a esteira que nos leva,
Eu não sei.
Quantas mais camadas podem ser tiradas de mim,
Quantas mais poderei vestir, até que
Se apague, em mim, a luz
E em minha casa haja apenas o silêncio,
Eu não sei.
Espero, porém, que esta casa seja um lar
Para ti,
Que haja nela um álbum de fotografias feias
Guardadas com carinho,
E que elas sejam as lembranças de nós dois.
Para que comigo repousem.
E que comigo permaneçam.