ENQUANTO VOCÊ DORMIA
como sempre ela quedou-se atenta
ao menor sinal e seu amor varou a noite
e as distâncias, indo pousar bem junto
àquele que dormia solidões e impossibilidades,
mas cujas palavras eram sempre aquele apelo
de suicida que ainda espera ser salvo por um
ato de amor...
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Viajo em pensamentos,
enquanto você dorme,
escuto a tua voz dizendo poemas,
o teu coração batendo cadenciado...
E assim, imóvel e entregue,
suspensa na borda de todas as ternuras,
adivinho tristezas, projeto-me na noite escura
e respiro contigo, atenta ao menor descompasso...
E então tuas palavras
voam como pássaros em céu claro,
misturam-se, fragmentam-se,
enquanto eu adivinho, eu busco
no teu respirar,
ora solto,
ora ofegante,
indícios de teus sentires.
E na tua voz me encantam sonoridades!
Um certo "O" (alongado) em a g o s t o,
uns erres carregados,
a emoção
nos versos mais pungentes,
nos versos finais, evocações,
nos tempos entrelaçados,
aquarela em claro-escuro.
Enquanto você dormia,
repousava em tanta calma,
no teu jardim havia uma flor
que de leve estremecia...
A ela nada importava,
senão estar viva ali,
saber tua vida e velar,
enquanto você dormia...