Camões do amor cotidiano
O amor é:
Uma caneta faceira
Ensaiando besteira
Para um picadeiro.
A borracha "sensata"
Que em breve se mata
Apagando os primeiros.
Mais um criado mudo
Que se finge de surdo
Para o mundo inteiro.
A pergunta em chamas
Que por outra aclama
E por extintores e isqueiros.
Martelo que sentenciou:
"Toda forma de amor
É agulha no palheiro".
(Julgando em causa própria!)
Fogão sem assadeira
Se vendo da geladeira
O seu real companheiro.
Uma lâmpada queimada
Sonhando com a alvorada
Como seu enfermeiro.
Relógio em horas mortas
Que bateu cada porta
Atrás dos seus ponteiros.
É o poema no rádio
Que reclama do plágio
Do da caneta-tinteiro.
Esquizofrênico portão
Que imaginou em seu cão
Um divino carteiro!
Uma bola na trave
Que entrou numa nave
Pra fugir com o goleiro.
É a goiaba com queijo
Que está sem nenhum beijo
E fez de amigo o saleiro.
É o mel que se excita
Com a abelha artista,
Mas que vem de um vespeiro.
Um estojo vazio
Que se sente vadio
Para ser caneteiro.
Um estojo vadio
Que preenche o vazio
Com mais um caneteiro.
Sei que eu repeti
E pergunto: e daí?
Também sou twiteiro.
(E o poema é meu!)
É o sal sem sabor
Que buscou o calor
Do cozinheiro,
Do padeiro,
Churrasqueiro,
Pipoqueiro,
Feiticeiro
E
Até do confeiteiro
E entrou em desespero
Na 13ª avenida
Que, por estar tão florida,
Não quer mais jardineiro.