Cérebro desejante
Se um dia você já se apaixonou,
Sabe o que passa um juízo atormentado.
E, se de quebra, a paixão não retornou.
Sabe o que é ter um coração dilacerado.
As pessoas sonhadoras sofrem mais.
Porque tem um coração subjetivo.
Não faz rodeio, se entregam, dão sinais.
Não protocolam nenhum kit preventivo.
Quando vê, já declarou ou deu bandeira.
Já não dá pra retroceder, descomplicar.
Já se entregou numa bandeja e deu bobeira.
Agora é tarde e só o que resta é lamentar.
Pois a paixão não se reprime a bel-prazer.
De quem se doou e não foi correspondido.
É que o cérebro apaixonado tem querer.
E, quando quer, é teimoso e decidido.
Quebra a cara mas não foge à sua essência.
Perigosa, intrometida e obcecada.
A paixão tolhe a razão e a consciência.
Tripudiando da moral etiquetada.
A neurociência para explicar faz seu intento.
O funcionamento de um cérebro apaixonado.
Mas entender não diminui o seu sofrimento.
Só faz o mesmo se tornar mais informado.
A filosofia diz que paixão é amor platônico.
E que o indivíduo apaixonado é desejante.
E se a paixão, veja que caso bem irônico,
Se satisfeita, cessa enfim, no mesmo instante.
Mas de uma coisa é possível ter certeza.
A paixão é corajosa e destemida.
Voluntariosa como a própria natureza.
Por onde passa causa estrago e abre ferida.
E a razão da sua força e sua beleza,
Está em dar lições que duram toda a vida.
Adriribeiro/@adri.poesias