Consciência poética
A poesia me escolheu, não o contrário.
Quando criança eu gostava de quadrinhas.
Copiei várias mas também criei as minhas.
E escrever versos era o meu vício ordinário.
Passei pra fase dos acrósticos mais à frente.
Qualquer palavra era um tema especial.
Nunca escrevi tanto poema original.
Fui do mais simples ao pernóstico, o diferente.
Na adolescência me encantei com soneto.
E, tal qual "Vinícius", ao amor quis ser fiel.
Em minhas mãos sempre o lápis e o papel.
Mas não dei conta de escrever nenhum quarteto.
E desatenta, muito cedo, tropecei.
Naquela pedra que Drummond pôs no caminho.
Parei no tempo e nem sequer provei um vinho.
Desejos grandes? Esses? Nunca experimentei!
Com o tempo me afastei da poesia.
Lírica, rítmica, amadoramente escansionada.
O verso branco da minha mente amargurada.
Fez da realidade sua única primazia.
Ah! Essa vida sempre ingrata e caprichosa!
Quase me rouba o grande amor pelo poema.
Metrificando amor e dor no mesmo esquema.
Tornou-me a sina cruelmente desditosa.
Lá foram os anos se passando lentamente.
Era assim que eu ingenuamente imaginava.
Mas na verdade hoje eu sei que me enganava.
Foram-se dias, anos, décadas... Num repente!
Hoje eu vejo o quanto a vida é fugidia.
"Tempos líquidos" que nos escapam aos sentidos.
Disse-nos "Bauman", num dos seus livros mais vendidos.
Para explicar as ilusões do dia a dia.
Mas pra dar cabo dessa perda temporal.
E não dar chance para a sensibilidade.
Encher o vazio da memória com a saudade.
Foi que eu criei este poema imortal.
Procurei por gigantes como Newton me ensinou.
Subi-lhe aos ombros e me fui acomodando.
Fazendo versos em suas frases me inspirando.
E assim fazendo esta obra singular desabrochou.
E a poética consciência antes muda e reprimida.
Igual o "Morcego" que "Dos Anjos" descreveu.
Me desperta a ânsia de escrever adormecida.
E como num insight a minha arte reviveu.
E eis que surge esta poesia incontida.
Cheia de um brilho e um furor que é só seu!
Adriribeiro/@adri.poesias
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