GRATIDÃO QUASE DE PRECE

Hoje, as árvores devem estar felizes decerto,

Pois a chuva que cai, molha os seus galhos,

A umidade e a frescura desses pingos,

Conservam as características dos orvalhos.

Há algum tempo que não se via cena igual,

De brandura, de pureza e de muita emanação,

A maravilhar as pupilas, um tanto exaustas,

De contemplarem somente o forte sol de verão.

Que felicidade, se essa maravilha branda

Se perpetuasse diante dos olhos, tão magistral,

Que traz consigo a fertilidade e a inspiração

Ao solo estéril e ao infértil poeta sem final.

Não apenas as árvores, o solo também

Regozija-se e se rejuvenesce ao contato

Do brando e contínuo cair da chuva,

Que tem receptividade no verde do mato.

Mas, pouco depois, escasseando, infelizmente,

A misteriosa dádiva do ar se retira,

Sem permissão prévia, ou consultar alguém,

Deixando em seu lugar o que o olfato aspira.

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