MORTO APAIXONADO

Não fazer amor com seu amor

traz a impressão do estar morto,

mas ninguém quer a morte.

O suicida mesmo

busca um orgasmo no seu ato,

deseja na língua da sua ruína,

uma consumação ardente

quer de sua consorte mortal

a concepção

de um estrago afetivo.

Não fazer amor com seu amor

desmorona o homem.

Ele está morto.

(O morto procura uma mulher pública,

mas ela nada valerá,

mesmo com suas graças de ofício.

A mulher pública não reinventa o amor

não retira o desejo de amar

do finado repelido).

O homem segue liquidado,

pois não fazer amor com seu amor

suscita uma coisa de morto:

algo que arrasa o peito,

algo estrábico, desfeito, torto,

e o homem mal desconfia,

ainda assim é casco.

O morto quer, pelo menos,

dizer à causa do seu arraso:

- Eu quis você nua

para uma paixão intensa;

paixão em sua forma básica,

crua!

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 31/08/2020
Reeditado em 02/09/2020
Código do texto: T7051408
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