O AMOR PEGOU DE JEITO
(Sócrates Di Lima)
Havia na minha alma um silëncio profundo,
Um vácuo pelo tempo esvaziado,
Um cravo seco e não fecundo,
Sem o tom do crepúsculo orvalhado.
Havia em mim uma sombra,
Do eu perdido no escuro,
Dos pensamentos uma sobra,
Das vontades do futuro.
Havia em mim um presságio,
De um amanhã sem chegar,
Um futuro que paga pedágio,
Para se poder nele amar.
E de tanto ouvir meus quérulos,
Perdi as cores da quimera,
Uma carta de teores nulos,
Anulado pelo silêncio da minha era.
Foi quando minhas pálpebras se levantaram,
E olhou ao longe um fértil olhar,
Que trouxe sorrisos que me enfeitiçaram,
E fizeram-me em ternura amar.
Ah! Que carinho recebo desse amor,
Em ternuras se fez o amor meu e se formou,
Minha ARCA de tantos sentidos em flor,
Que na minha terra firme, o seu amor me pegou.
Assim, um bem me faz em cantos e prosas,
Como tantos alvoreceres,
Fez-me minhas vontades alterosas,
Que gritam de alegria em nossos prazeres.
E por tudo que me tem passado,
Entre a juventude e o que hoje tenho no peito,
Sinto-me assim, tão bem amado,
Que digo, putz esse ordinário(amor) me pegou de jeito.