ONDE ESTIVERES
No horizonte o trovão no céu bramia...
O arvoredo se envergava a ventania
tal como o bardo se vergava à solidão!
O mar revolto em tristeza se espraiava,
e, a saudade- da paixão fiel escrava -
no peito ardia destroçando o coração!
E entre a dor, entre a saudade e a lembrança,
a Minh! Alma se transmuda em esperança
de que me ouças neste azul sem dimensão!
Vem, trespassa as ondas longas da distância,
sintoniza teu amor em minha ânsia
na frequência sem par desta emoção!
Ah! Musa eterna, compadeça dos meus ais!
Ouve agora meus gemidos tão reais
que saem d’alma numa prece de socorro!
Ah! Tu não vens não me mostras teus encantos,
e, de dores, de amarguras entre prantos,
eu desfaleço, e de saudades quase morro!
Mas, se não te sinto mais alma corpórea,
se tua face se estampa em cor marmórea,
inda me resta o saber da eternidade!
Na mente eu te percebo lado a lado,
e, por isso é que assim, alucinado,
sonho ainda com a imortal felicidade!
Escuta, pois, doce Musa, meus clamores!
O perfume que invejava a tantas flores
não mais exala do teu corpo nacarino!
Ah! Por teus lábios e teus beijos inda eu gemo!
E em pensamentos à deriva vou no extremo
de te buscar na imensidão em desatino!
Ao bardo já não basta à lira triste,
que se repete nesta estrofe que persiste:
Onde habitas neste céu ó minha estrela!?
Quero achá-la no infinito que ignoro
Pra dizer que é a ti que eu tanto adoro
e, dar a vida num minuto para vê-la!
Volta de onde estiveres. Sê clemente!
Vem sentir este amor que inda é presente,
e que Minh! Alma em desesperos entrelaça!
Volta outra vez ao flamboyant amigo,
vem deitar à sua sombra o amor antigo
e, me dizer o que sem ti, queres que eu faça!
27.08.2020
Nelson De Medeiros