Brevidade
Perdão se tomo a alma pelo corpo,
Sei que sou indiscreto, deselegante.
O que fazer por estar acostumado
Aos versos dos seus movimentos?
Perdão se almejo o corpo pela alma,
Sei que sou observador, atento.
Por isso ouço a música dos seus olhos,
Cantatas desenhando seus segredos.
Minto e minto muito ao esconder emoções,
Não posso dar-me ao luxo de externá-las.
Guardo no recalque longas frustrações. Sei
Que a morte, como vermes, as dissipará.
Queria muito te dizer belas palavras,
Mas seus ouvidos, já acostumados,
Ririam do meu inútil esforço.
Guardo-as para lembrar que te amo.
São vinte e quatro horas: uma brevidade,
assim como os ponteiros, estamos aqui.
Ali, outro momento ou o nada, talvez,
Sem brevidade, a solidão preenche a vida.