A flor que idealizei
 
Eu vi a primavera se desfolhando como outono.
Senti cada pétala se desfazendo perante olhos
Insensíveis e incapazes de reverter o fenômeno.
Não houve um domínio sobre a natureza,
Apenas pujança do espetáculo movimentando.
 
A flor que idealizei se desintegrou,
Virou um nada que passou como antes.
Sem ter percebido, a flor não era flor
Porque o medo engoliu o olfato
E a vida continuou buscando amor.
 
Senti um enorme desejo em me desfazer
Enquanto a dor dilacerava os olhos desejantes
Com todo o seu elenco de altivo sarcasmo,
Picando os sentimentos alimentados
Pela ilusão da imagem real.
 
Chorei sem lágrimas como lobo da estepe,
Farejando o que tinha para continuar vivendo,
Mesmo uma vida andante sem bússola.
Mas a pergunta insiste: quem sabe o caminho?
Quem conhece o destino é o improviso.