Encontre-me em Veneza
Ele sempre sonhou com um amor
Desses que passavam no cinema
E que nenhum de seus amigos imaginava
Que eram o tipo de seus filmes favoritos
Ela rabiscava poemas desde à escola
Nunca escondeu que apesar de tudo
Acreditava no amor e maratonava filmes
Em seus fins de semana solitários
Ele namorou apenas uma vez
Mas a jovem não soube lidar com a intensidade
Daquele coração que transbordava um amor errante
E ele mais uma vez se viu triste e ferido
Ela nunca se apaixonou
Por alguém que a correspondesse
Os garotos eram imaturos e mentiam
Para não ter que sair com ela
Ele decidiu esconder seus sentimentos
E focar nos estudos
Se dedicou a Relações Internacionais
E deixou que o amor só figurasse nas telinhas
Ela acreditou tanto que a pessoa certa viria
Que viveu relacionamentos ruins
E depois de um tempo, desistiu dessa balela
E ingressou na universidade para estudar Artes
Passando por uma livraria em um final de tarde
O jovem abriu uma Antologia de poemas
E seus olhos se concentraram no título
Encontre-me em Veneza
Ela correndo para o trabalho
Observa o mundo pela janela do metrô
Sua amiga lhe encaminha um arquivo em PDF
Na tela aparece Encontre-me em Veneza
Ele se interessa pelo título
E abre na página indicada
A poesia só tem um verso
"Se você ainda acreditar no amor"
O arquivo que ela recebeu
Tinha dua páginas, uma com a poesia
E logo depois uma longa dedicatória
De alguém que aparentemente ainda acreditava no amor
Ele se pergunta, e se for sério?
Talvez ele não tivesse que buscar em seu entorno
Algo que Veneza destinasse a seu coração
Demasiadamente iludido
As férias da jovem não tardariam
Seria uma oportunidade perfeita
Mas ela se lembra das desilusões
E decide afastar o pensamento
Ainda pensando no assunto, o rapaz volta a se concentrar no trabalho
No dia seguinte, seu chefe lhe informa que terá que sair do Brasil
Para resolver pendências no exterior
França e Itália seriam os destinos
A jovem ocupando a cabeça com outras coisas
Foi chamada pela diretoria a fim de submeter-se a uma entrevista
Considerada esforçada e eficiente para o posto
Passaria um mês em Veneza para escrever um artigo sobre o local
Ele mal acredita no que está acontecendo
Agenda o voo, compra uma mala e vai organizando tudo
Trabalharia como nunca
Mas não deixaria de passear por Veneza
Ela sente o coração disparar
Mil e uma possibilidades batendo à porta
Liga para a amiga e empolgada conta tudo
Sairia em uma semana
Embarcam em aviões diferentes na quinta-feira daquela manhã de Outubro
Ele com destino a Estrasburgo, hospedando-se num Hotel por três dias
Cumpre os requisitos da chefia e encaminha relatórios por email
Como já estava no Centro, conheceu a Catedral de Notre Dame
E andou por alguns bairros nos arredores visto que viajaria em poucas horas
Ela resolve ficar numa pensão mais aconchegante
Tudo que arruma suas coisas e toma um banho
Pega sua bolsa e começa a fotografar a Torre do Campanário
Observa as pessoas entrando na Basílica di San Marco e os segue
Experimentando pela primeira vez uma viagem de trem com destino a Veneza
Ele coloca os fones de ouvido e olha pela janela
Seus pensamentos vagam no espaço e um sorriso surge em seus lábios
Não se lembra da última vez que esteve tão feliz
A noite logo chega e o cansaço dá as caras
Ela anota algumas informações que conseguiu durante o dia
E olhando mais uma vez para Veneza da janela de seu quarto
Adormece com o coração tranquilo e em plenitude
Chegando a cidade italiana com o badalar das seis horas da manhã
Hospeda-se numa pensão pois ficaria mais dias por ali
Por mais que os motivos que o levaram ao solo italiano fossem de trabalho
Não esqueceria dos versos tão vivos em sua mente
Após um rápido café, a jovem volta ao quarto para se arrumar
Coloca uma blusa xadrez, calça jeans alta, tênis e solta os cabelos
Na blusa, os óculos de sol redondo
No ombro, a bolsa com o caderninho de anotações, carteira e o celular
Descansado depois de algumas horas de sono
Ele liga para agendar a reunião para o dia seguinte
Como não havia problema nenhum, sai pelas ruas sem destino
Confiando nas direções de seu próprio coração
Ela anda pela cidade, ora conversando com nativos e turistas ora tirando fotos
Começou a subir no que pareceu ser uma ponte
Mas estava cheio de gente e ela foi pedindo licença e entrando numa loja
Que ficava em uma das laterais daquele elo sob as águas
Ele cada vez mais fascinado por Veneza
Entrou em lojas, restaurantes e vez ou outra tirava fotos dos canais
Muitas pessoas falando línguas diferentes passavam por ele
E o jovem continuou andando até estar sob a Ponte Rialto
A moça cuja pronúncia de italiano era mais lenta a atendeu
Aos poucos a jovem entendeu que estava na Ponte Rialto
E após ser informada que ao entardecer a vista era linda
Comprou algumas lembrancinhas e saiu agradecida
As pessoas pareciam acampar na ponte e manter-se ali era difícil
Ele resolve voltar mais tarde e sai
A alguns passos atrás, a jovem toma a mesma decisão
E ambos se distanciam em direções opostas
Ao cair da noite, ela coloca seu vestido azul sem mangas
Faz um coque e no pescoço a correntinha com um passarinho de asas abertas em voo
Perfuma-se e olhando mais uma vez no espelho percebe que o batom precisa de retocar
Uma vez pronta, não tarda a caminhar pelas ruas
Ele toma um banho demorado e penteia os cabelos que insistem em se arrepiar
Veste uma blusa de botões, calça jeans escura e tênis
Sai da pensão e caminha lentamente com as mãos nos bolsos
Observa o Céu e encontra nas estrelas sua companhia
Ela anda distraída e mal percebe que está a alguns passos da ponte
Poucas pessoas passam por ali e ninguém de fato para sobre ela
Exceto um rapaz que olha sonhador para o Céu
Tão concentrado está que não percebe que ela se aproxima
Algo nele acelera seu coração e ela se mantém um pouco distante
Vez ou outra o observa à espreita
Ele parece ser despertado pelas chamas iminentes de certo olhar
E os dois se encaram como se já tivessem se conhecido antes
De repente, os dois desviam o olhar para o canal
Ele sente que precisa conhecê-la mas teme assustá-la
Ela quer perguntar o por quê daquele jeito sonhador que lhe soa tão estranho e familiar
Mas cruza as mãos e continua ouvindo os próprios pensamentos
Ele suspira e começa a se afastar
Não tem confiança o suficiente para puxar conversa
Ela o vê se afastando e solta um “você já vai?”
Ele sorri ao perceber que ela disse em português e se aproxima devagar
É brasileira também?
Sim e pelo jeito você também. Sou carioca e você?
Paulista. Eu já te vi antes? ele pergunta com algo naquele olhar brilhante
Acho que não, mas sua presença aqui é tão sonhadora...
Tem algum motivo especial para estar aqui?- ela pergunta sentindo o rosto arder
Bem, estou a trabalho mas li uma vez um poema
E quis voltar a esta ponte hoje a noite
Encontre-me em Veneza? ela pergunta com o coração apertado
Sim, como sabe?
De certa forma, ele também me trouxe aqui.
Que estranho é o destino, comenta ele com um sorriso nos lábios
Sim, você já esteve aqui antes?
Hoje pela tarde mas tinha muita gente- ele coloca uma das mãos no parapeito da ponte
Eu também estive aqui! Meu Deus.
É muita coincidência para um dia só, eu me chamo Luiz Miguel, você é…
Luana, Luana Marcela diz sorrindo e estendendo a mão
Assim que ele segura, é como se o tempo congelasse e só existe aquele momento
Os dois se encaram por um breve instante e ela puxa a mão
Jantaria comigo esta noite, Luana? Ouvi dizer que aqui pertinho tem um restaurante incrível
Claro, será um prazer.
Lado a lado, eles foram descendo a ponte até chegarem ao Antico Caffé Ristorante Al Buso
Ali conversaram e contaram sobre seus caminhos na vida
Mal sabendo que a partir daquele encontro influenciado pelo destino
Estariam presentes um no coração do outro para o resto de suas vidas.