Nelma   ***




Através da fria noite,
atrás das coisas que me atormentam,
busco no cheiro do vento
um pouco de tudo,
um frasco de você viajando até mim.
Quero no gosto do tempo
sentir seu sabor,
recostar no palco, ver seu amor,
antes que fechem as cortinas.
E nesse meio tempo que sobra,
a ausência avisa, cobra
as perdas, os desenganos
que viajam sempre por aqui.
E nesse quarto despido,
esse quarto de hora é grande.
Transcorre vagarosamente
resguardando segredos,
traçando histórias, contando épocas,
resfriando a dose quase extinta,
pequena de poesia que ainda possa querer
almejar, reconstruir o tumulto,
a passagem serena do seu vulto
hilariante em minha rua;
este pedaço do céu
que fez azul um dia.
Um também que a fria neblina
falou em despedida e se despiu.
O véu caiu; a cortina encerra o ato
no exato quarto de hora,
pequeno frasco na soma do tempo,
grande, imenso para subtrair,
roubar de uma vida.


   Consolo para perda, apenas o tempo atenua.  26/06/2020 ( Imagem Google)