Penumbra


As idéias parecem espúrias,
o caminho turbulento, escuro.
As imagens de outrora,
a raiada aurora
mistura-se aos dias densos de nuvens.
Transeuntes, vozes, ruídos estranhos de máquinas
fazem um misto de explosões.
Minhas angústias e emoções
dançam encabuladas na penumbra
sob o véu, aceso da discriminação.
Mas o pensamento vagueia,
rebusca o teto extremamente azul.
Encontro dois lagos azuis
emoldurados no rosado do seu rosto.
Quanta saudade festeja no peito,
mesmo sabendo ser, sem voltas,
sem as rodas da ciranda.
E o pensamento prossegue,
paulatinamente ferindo,
rasgando o talho do tempo,
descobrindo o ocaso,
o crepúsculo, a troca de cores.
A festa masoquista retorna.
O rubro entardecer bamboleia seu corpo.
Furtivo eflúvio paira no ar,
enquanto veste por veste cai ao chão
indefinido as cores,
misturando-se as minhas,
enquanto por trás do sorriso,
um só riso de cobiça, seus olhos de desejo,
campina verdejante onde repousei,
salpicam minha imagem com gotas,
pingos, chuvas de amor.
Ah, e o pensamento passeia pela noite,
conta estrelas, vislumbra imagens celestiais,
perdido em reflexos lunares
enquanto encontro nos castanhos da menina faceira,
a pausa do olhar que convida, chama,
grita pelo amor que embarca,
foge na carruagem do destino.