Albergue



Quero a palavra virgem
em boca ilibada para tonificar,
glorificar o altar de luzes
onde conservo a casta vontade
de dar, receber em fluxos conexos,
todo o amor do mundo.
Quero flutuar nas plumas,
nas sedas, entre cabelos soltos, revoltos,
contracenando com meu rosto,
rasgando a peça, o ato seguinte,
quebrando o epílogo
na salva dos beijos.
Quero aspirar o aroma
no seguinte do colo amado,
sugando o mel
com todo o gosto de céu.
Colado, calado, falar em silêncio
dos muitos momentos,
quando, quando esperei,
sem que respostas suas abrissem as portas.
Quero calar, colado, preso ao sossego,
viver de coragem arrebatando o medo.
Quero o abraço impoluto
resguardando o frio, o espúrio,
traindo a incúria, fazendo-se em abrigo.
Quero o calor do olhar amigo,
emoldurado na face companheira,
vendo a vida, legando imagens.
Quero o contorno do sorriso
semeando fé, esperança,
trocando cores no crepúsculo
da tarde triste, o alegre desabrochar.
Quero mãos abençoadas afagando,
levando embora as feridas.
Quero você, perdida no tempo,
ausente de tudo que ainda parece ser meu.
Quero você antes que...
Antes que seja tarde, meu Deus.